Inicío

26 de outubro de 2011

70x7 : A matemática do perdão


Certa feita li em um texto de Joseph Tissot a seguinte frase: “O perdão é um movimento do coração”. No momento da leitura essa frase ficou martelando em meu coração. E ela ficou marcada em minha mente "[...] movimento do coração". Só mais tarde compreenderia o porquê desta frase. Por que uma coisa é certa: Só sabe o que é perdão quem um dia o recebeu. A palavra de Deus nos trás uma série de textos que conduzem ao conhecimento do perdão. Dois deles trazem em si as mais belas demonstrações do que de fato é perdão. O primeiro texto encontra-se e no Evangelho Segundo São João Cap. 8, 1-11, relato da pecadora arrependida. O segundo texto lemos no Evangelho Segundo São Mateus Cap.18,21-35, a parábola do Senhor Misericordioso e o perdoado.
Porque estes textos são os mais expressivos sobre o perdão? De todo modo existe tantos outros textos sobre este tema e que se fossem aqui citados teríamos que escrever um verdadeiro tratado sobre tal. E com toda certeza esta não é minha vontade. Estes dois textos foram aqui recolhidos por sua expressiva mensagem sobre o tema do perdão. Temos uma visão um tanto que inexpressiva e meramente simplista do que seja de fato o perdão e perdoar. Resumimos o perdão em simples gestos exteriores e repletos de palavras e diálogos. Resumimos o perdão em nossa vontade e anexamos este mesmo ao cume de nossa vontade e prazer.
Estamos tão submetidos aos números e aos limites de uma sociedade em que tudo possui o seu valor e o seu número, que até mesmo o perdão foi enumerado em vezes. A pergunta do Apóstolo Pedro é o ponto de partida: “Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?” Mat. 18,21. E o Senhor dotado de amor e compaixão conta-lhe uma parábola. O rei que perdoa a dívida de seu servo que lhe devia uma quantia exorbitante, isto porque de fato quem ler este texto percebe a expressivo valor da dívida: 10 mil talentos, o que corresponde a 174 toneladas de ouro! E o servo clamando clemência ao rei alcança dele a graça do perdão. Mas este mesmo não soube usar de compaixão para com o irmão que lhe devia uma quantia mínima de cem denários, que equivale a menos que 30 gramas de ouro, assim ele o agarrou cobrando-o. Só sabe de fato o valor do perdão quem de coração o recebeu em seu ser. Vejam a loucura deste servo! Ele que havia recebido do seu Rei e Senhor a graça da miséricódia, agora age implacável em cobrar o seu irmão.
Após a leitura atenta deste texto pude compreender o que de fato quer dizer “um movimento do coração” e o fato de porque o perdão não pode ser reduzido a números e valores. A resposta do Senhor a Pedro vem somada a um verdadeiro calculo do amor: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” Mat. 18,21. Assim se resumi o perdão. Não existe valor que possa medir o número de vezes que o perdão deve ser colocado em prática. Não há nada que meça o verdadeiro valor de um perdão dado com o coração. Isso é um movimento do coração.
O perdão exige de nós o abandono total de nosso orgulho e vaidade. A sinceridade de um coração é que torna real o arrependimento. Onde existe amor real não há lugar para egoísmos e orgulhos! Não cabem estas realidades em mesmo sentido. O perdão é o abandono de nossas convicções e vontades em favor da paz interior. Como eu, tenho certeza que também você já se sentiu mal por estar magoado ou por ter magoado alguém. Neste momento surgem os mais variados pensamentos: “Ele que venha até mim”; “Devia procurá-lo”; “Porque toda vez tenho que pedir perdão?”. Aqui se fixa com o sentido real dessa abnegação de convicções, princípios e valores. Quem faz a experiência de sempre perdoar reconhece de fato o valor que tem um perdão concedido com amor.Vejam quanto amor o Senhor não sentiu por aquela pecadora. Ela já sentia em si o peso da morte. Mas bastou um simples movimento do coração que tudo perdoa para ela novamente se sentir viva. Ele abandonou suas convicções religiosas e sociais. 
Um perdão que não se resumi em simples gesto corporal ou dialógico. O perdão exige antes de nós um verdadeiro sentimento de amor para com o próximo. Não devemos nos esquecer de que também nós um dia cairemos! O perdão só existe onde existe amor real e verdadeiro. Vejam irmão o quanto devemos ao Senhor, devemos de fato uma dívida que nunca seremos capazes de pagar: Ele morreu crucificado, padeceu por nossas faltas. E não existe nada no mundo que pague esta dívida de amor para com o Sumo Bem. Todos nós temos pecados! E estamos propensos ao erro e falta. Então está na hora de soltarmos nossas pedras das mãos e ouvimos ajoelhados diante do Amor Eterno à frase que também nos cabe: “Ninguém te condenou? [...] eu também não te condenarei.” Jo 8,10b.11a.


Nenhum comentário: