
Lendo
e meditando as palavras do Santo evangelho de Lucas, capitulo primeiro verso
sétimo, lemos: “Porque não havia lugar
para eles”. Esta passagem do evangelista relata o acontecimento do
nascimento de Cristo em Belém. Maria e
José estão na cidade para o recenseamento proposto pelo imperador César
Augusto. Chegando a cidade não encontraram lugar para se hospedar. Aquele que
fez o mundo e todas as coisas não possuiu um lugar para nascer. Completa-se o
sentido deste acontecimento com as palavras do próprio Senhor que diz: “O Filho do homem não tem onde recostar a
cabeça.” Mat 8,20. O intrigante é ver a atualidade desta Palavra de Lucas.
Hoje em dia não é diferente para o Senhor! Porque estamos tão preocupados em enfeitar,
em uma ceia, em presentes e árvores que esquecemos o principal sentido do
Natal. Não é uma festa de proporções mercantis ou econômicas, entretanto é uma
festa de frutos espirituais. Encontramos neste tempo shoppings lotados, lojas
abarrotadas de pessoas. Voltamos o olhar
para as festividades externas deste tempo.
No
tempo do Natal parece que a vida e a realidade tomam novos rumos e apontam
novos horizontes. Isso acontece todo final de ano com as festas que estão
ligadas a este período. São promessas e votos, desejos de mudança para o ano
vindouro. Voltamos para o ano que passou e temos a impressão de que não fizemos
aquilo que desejamos por inteiro. Como se houvesse um grande vazio em nós, e
queremos com a proximidade do ano que se aproxima renovar e criar novas
esperanças. Contudo, queremos sempre
coisas maiores e melhores. Em que ponto de toda essa tendência ao futuro, que
emerge no findar do ano, deixamos espaço para Deus? Parece que todos os
caminhos levam para longe de Deus. Esquecemos o verdadeiro sentido do Natal.
Porque e por quem se realiza essa festa que muda nossas rotinas e vidas. Porque
em nossas vidas não existe “lugar para eles.” E esvaziamos nossas expectativas
e esperanças em presentes e coisas meramente passageiras e renegamos o “presente”
mais grandioso que poderíamos receber: Jesus Cristo, Emmanuel, Deus conosco, o
Filho do Homem.
Andando
pelas ruas da cidade as vemos lotadas de enfeites, pessoas que passeiam em
busca daquele presente perfeito, alegria e singeleza nas relações, milhares de
campanhas de natal para instituições de caridade e filantropia. Nasce no
coração do homem o “espírito de natal”. Mas uma pergunta todos os anos chega ao
meu coração: Não deveria este “espírito de natal” acontecer durante todo ano?
Não deveríamos voltar nossos olhos aos pobres, ao próximo e ao sofredor o ano
inteiro? A alegria de um Deus conosco não deveria encher nossos corações
durante o ano todo? Porque então só neste período fazemos estas coisas
parecerem tão emergentes e urgentes? São com toda certeza muitos
questionamentos para nós sobre este período.
Não
digo que estes empreendimentos e empenhos devam acabar, contudo devemos
entender que eles deveriam acontecer durante todo o ano. Os orfanatos, casas de
recuperação, presídios, hospitais e tantos outros não funcionam tão somente
neste fim de ano, contudo durante todo ao ano. O nosso irmão não tem que ser
amado só durante este final de ano, contudo o ano inteiro. Estes gestos de
caridade e filantropia deveriam ser repetidos tantas outras vezes durante o
ano. Enchemos as redes sociais de ameaças, xingamentos, piadas e outras coisas
mais sobre o caso enfermeira em Formosa que aparece em um vídeo espancando um
cachorro da raça Yorkshire. Já pensou se usássemos todo esse empenho em ajudar
a Sociedade de São Vicente o ano inteiro. Usar todo esse período para ficar um
tempo no hospital com os menos favorecidos, no presídio com nossos irmãos
encarcerados, nos asilos e orfanatos. Olhemos uns instantes para nossa escala
de valores humanos. Fizemos uma “guerra atômica” de montagens e piadinha sobre
o ocorrido com um animal e não somos capazes de cuidar de quem é semelhante a
nós o ano inteiro. Ainda se acha
racional?
Fiquei
demasiado preocupado quando perguntei para uma criança outro dia na Igreja:
“Quem é teve seu nascimento no natal?”.
Ela prontamente respondeu: “Papai Noel”. E acredito que se fizesse essa
mesma pergunta para outras crianças elas responderiam o mesmo. É tão avassaladora
a intenção da promoção do bom velhinho que em quase todos os comerciais, se não
todos, de televisão ele aparece como protagonista. Não que isso importasse para
promoção cristã do Natal, porém este marketing televisivo faz uma verdadeira
lavagem cerebral em nossas crianças e jovens. O Natal se tornou uma festa mais
conectada ao mercado comercial, ao fato religioso que está ligado ao Nascimento
de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Esta
mudança de mentalidade deveria começar primeiramente por nós cristãos.
Deveríamos colocar um novo olhar sobre o Natal. O olhar de quem reconhece que
nosso Deus e Senhor, sendo Deus, veio de forma concreta habitar conosco. No
coração devemos ter novos horizontes e novas perspectivas, mas que estes sonhos
comecem neste período e perdurem ao no todo. Que as
diversas campanhas de ajuda às várias instituições não sejam apenas neste tempo
que vivemos, mas que sejam para todo o ano, que se repita de modo ousado
durante o ano que advém. Mudar a
realidade do Natal exige de cada um de nós a confiança e reconhecimento de um
Deus que veio ficar conosco. Esse é o real sentido de toda essa festa que
vivemos durante este fim de ano. Todas essas realidades citadas acima, sem esse
norte que guia nossos passos, não passam de uma coleção de gestos e realizações
sem sentido. Ficam as palavras do profeta Isaías que nos convida:
O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre
aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz.
Vós suscitais um grande regozijo, provocais uma
imensa alegria; rejubilam-se diante de vós como na alegria da colheita, como
exultam na partilha dos despojos.
Porque o jugo que pesava sobre ele, a coleira de
seu ombro e a vara do feitor, vós os quebrastes, como no dia de Madiã.
Porque todo calçado que se traz na batalha, e todo
manto manchado de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão presa das chamas;
porque um menino nos nasceu, um filho nos foi
dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro
admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz.
Seu império será grande e a paz sem fim sobre o
trono de Davi e em seu reino. Ele o firmará e o manterá pelo direito e pela
justiça, desde agora e para sempre. Eis o que fará o zelo do Senhor dos
exércitos.
O Senhor profere uma palavra contra Jacó, e ela
vai cair sobre Israel.
Isaías 9:2-8
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