Inicío

21 de dezembro de 2011

“Porque não havia lugar para eles” Luc 1,7



Lendo e meditando as palavras do Santo evangelho de Lucas, capitulo primeiro verso sétimo, lemos: “Porque não havia lugar para eles”. Esta passagem do evangelista relata o acontecimento do nascimento de Cristo em Belém.  Maria e José estão na cidade para o recenseamento proposto pelo imperador César Augusto. Chegando a cidade não encontraram lugar para se hospedar. Aquele que fez o mundo e todas as coisas não possuiu um lugar para nascer. Completa-se o sentido deste acontecimento com as palavras do próprio Senhor que diz: “O Filho do homem não tem onde recostar a cabeça.” Mat 8,20. O intrigante é ver a atualidade desta Palavra de Lucas. Hoje em dia não é diferente para o Senhor! Porque estamos tão preocupados em enfeitar, em uma ceia, em presentes e árvores que esquecemos o principal sentido do Natal. Não é uma festa de proporções mercantis ou econômicas, entretanto é uma festa de frutos espirituais. Encontramos neste tempo shoppings lotados, lojas abarrotadas de pessoas.  Voltamos o olhar para as festividades externas deste tempo.
No tempo do Natal parece que a vida e a realidade tomam novos rumos e apontam novos horizontes. Isso acontece todo final de ano com as festas que estão ligadas a este período. São promessas e votos, desejos de mudança para o ano vindouro. Voltamos para o ano que passou e temos a impressão de que não fizemos aquilo que desejamos por inteiro. Como se houvesse um grande vazio em nós, e queremos com a proximidade do ano que se aproxima renovar e criar novas esperanças.  Contudo, queremos sempre coisas maiores e melhores. Em que ponto de toda essa tendência ao futuro, que emerge no findar do ano, deixamos espaço para Deus? Parece que todos os caminhos levam para longe de Deus. Esquecemos o verdadeiro sentido do Natal. Porque e por quem se realiza essa festa que muda nossas rotinas e vidas. Porque em nossas vidas não existe “lugar para eles.” E esvaziamos nossas expectativas e esperanças em presentes e coisas meramente passageiras e renegamos o “presente” mais grandioso que poderíamos receber: Jesus Cristo, Emmanuel, Deus conosco, o Filho do Homem.
Andando pelas ruas da cidade as vemos lotadas de enfeites, pessoas que passeiam em busca daquele presente perfeito, alegria e singeleza nas relações, milhares de campanhas de natal para instituições de caridade e filantropia. Nasce no coração do homem o “espírito de natal”. Mas uma pergunta todos os anos chega ao meu coração: Não deveria este “espírito de natal” acontecer durante todo ano? Não deveríamos voltar nossos olhos aos pobres, ao próximo e ao sofredor o ano inteiro? A alegria de um Deus conosco não deveria encher nossos corações durante o ano todo? Porque então só neste período fazemos estas coisas parecerem tão emergentes e urgentes? São com toda certeza muitos questionamentos para nós sobre este período.
Não digo que estes empreendimentos e empenhos devam acabar, contudo devemos entender que eles deveriam acontecer durante todo o ano. Os orfanatos, casas de recuperação, presídios, hospitais e tantos outros não funcionam tão somente neste fim de ano, contudo durante todo ao ano. O nosso irmão não tem que ser amado só durante este final de ano, contudo o ano inteiro. Estes gestos de caridade e filantropia deveriam ser repetidos tantas outras vezes durante o ano. Enchemos as redes sociais de ameaças, xingamentos, piadas e outras coisas mais sobre o caso enfermeira em Formosa que aparece em um vídeo espancando um cachorro da raça Yorkshire. Já pensou se usássemos todo esse empenho em ajudar a Sociedade de São Vicente o ano inteiro. Usar todo esse período para ficar um tempo no hospital com os menos favorecidos, no presídio com nossos irmãos encarcerados, nos asilos e orfanatos. Olhemos uns instantes para nossa escala de valores humanos. Fizemos uma “guerra atômica” de montagens e piadinha sobre o ocorrido com um animal e não somos capazes de cuidar de quem é semelhante a nós o ano inteiro. Ainda se acha racional?
Fiquei demasiado preocupado quando perguntei para uma criança outro dia na Igreja: “Quem é teve seu nascimento no natal?”.  Ela prontamente respondeu: “Papai Noel”. E acredito que se fizesse essa mesma pergunta para outras crianças elas responderiam o mesmo. É tão avassaladora a intenção da promoção do bom velhinho que em quase todos os comerciais, se não todos, de televisão ele aparece como protagonista. Não que isso importasse para promoção cristã do Natal, porém este marketing televisivo faz uma verdadeira lavagem cerebral em nossas crianças e jovens. O Natal se tornou uma festa mais conectada ao mercado comercial, ao fato religioso que está ligado ao Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Esta mudança de mentalidade deveria começar primeiramente por nós cristãos. Deveríamos colocar um novo olhar sobre o Natal. O olhar de quem reconhece que nosso Deus e Senhor, sendo Deus, veio de forma concreta habitar conosco. No coração devemos ter novos horizontes e novas perspectivas, mas que estes sonhos comecem neste período e perdurem ao no todo. Que as diversas campanhas de ajuda às várias instituições não sejam apenas neste tempo que vivemos, mas que sejam para todo o ano, que se repita de modo ousado durante o ano que advém. Mudar a realidade do Natal exige de cada um de nós a confiança e reconhecimento de um Deus que veio ficar conosco. Esse é o real sentido de toda essa festa que vivemos durante este fim de ano. Todas essas realidades citadas acima, sem esse norte que guia nossos passos, não passam de uma coleção de gestos e realizações sem sentido. Ficam as palavras do profeta Isaías que nos convida:


O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz.

Vós suscitais um grande regozijo, provocais uma imensa alegria; rejubilam-se diante de vós como na alegria da colheita, como exultam na partilha dos despojos.
Porque o jugo que pesava sobre ele, a coleira de seu ombro e a vara do feitor, vós os quebrastes, como no dia de Madiã.
Porque todo calçado que se traz na batalha, e todo manto manchado de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão presa das chamas;
porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz.
Seu império será grande e a paz sem fim sobre o trono de Davi e em seu reino. Ele o firmará e o manterá pelo direito e pela justiça, desde agora e para sempre. Eis o que fará o zelo do Senhor dos exércitos.
O Senhor profere uma palavra contra Jacó, e ela vai cair sobre Israel. 
Isaías 9:2-8

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