Era mais um
dia de visitas ao hospital de base de Brasília. A semana havia sido muito
exaustiva no curso de filosofia. Ainda mais aquele sábado em que tivemos vários
trabalhos para apresentar e eu estava na copa do seminário. Chegando ao
hospital como de costume aconteceu à divisão das duplas para o mês. Tive a
alegria de partilhar este mês com meu irmão Juscelino, humilde e dotado de uma
paciência. Ambos confessamos antes mesmo de entrar no hospital
que estávamos sem ânimo e muito exaustos. A área onde fomos
designados é o setor da emergência. Como todo hospital público em nosso país encontra-se
situações de lotação com pacientes pelo corredor do recinto. Assim que chegamos
fizemos um pequeno momento de oração pedindo ao Senhor da fortaleza que nos concedesse
coragem e ânimo para nossa missão.
Ela
estava lá. Num descanso meio sonolento, meio desperto. Seu marido lhe
acompanhava. Os dois muitos simpáticos. Benedita era seu nome. Benedita que
provém de bendita, e como era bendita aquela mulher! Seu sorriso em si já
bendizia a Deus. No seu rosto havia as marcas de uma coragem firme, de um ânimo
forte. Bastou aquele sorriso para trazer aos nossos corações o ânimo e a coragem.
Benedita
tem sua casa no Mato Grosso, mas por cinco anos faz tratamento contra uma
doença renal no Hospital de Base de Brasília. Participa da Congregação cristã
no Brasil, Igreja pela qual em suas palavras ela "saiu de uma vida de
apenas ócio e miséria religiosa”, diz isto por não ter, segundo ela, experimentado
uma vida de devoção e fé. E suas palavras eram como uma catequese, mesmo sendo
de outra denominação! E que palavras de vida e história! Que fio de ouro foi
tecido na vida daquela mulher. Uma cura das coisas do passado. Uma vivência
evangélica do presente. “O sofrimento é a porta que nos faz passar ao
Pai". Ah Benedita que palavras de vida foram estas! Que amor era
este!
Benedita
era uma mãe na totalidade da palavra. Mãe no sentido mais pleno do termo. Tiveram
dois filhos naturais, estes dos quais ela fala com amor. Cuidou, educou e formou
cada um para o bem. Com seu marido, ambos professores do ensino fundamental e
alfabetização, tratou de fazer dos filhos homens de bem.
Benedita
não bastava os dois filhos que você tinha? Não. Benedita é mãe no total da
palavra. Sabendo que próximo a sua casa uma moça queria abandonar seu filho na
rua, ela correu em reter para si aquele pequeno. Acabou por adotar mais um
filho. Este ao qual ela ama com carinho de uma mãe admirada pela vida. Cuidou e
educou a este filho, como cuidou e educou aos outros. Benedita tinha um
sentimento de amor pelos seus filhos. E toda vez que falava deles chorava com
saudade. Um choro de uma saudade materna, como o choro de tantas outras
maternas saudades que se encontram no mundo.
Este
filho adotado acabou por envolve-se com uma determinada moça, com
qual teve uma filha. Ocorreu que a mãe da criança não aceitava a sua gravidez e ameaçou para Benedita de fazer um aborto. Gritante foi no
coração daquela mãe estas palavras. Não só no coração de mãe, mas agora também
de avó. O amor brotava novamente em seu coração e Benedita não se rogou. E não
podendo conter sua vocação para ser mãe ela acabou criando também a neta,porque
uma mulher como Benedita nasceu vocacionada a maternidade.
E
Benedita se tornou a totalidade deste dom. E Mãe que gera os seus para a vida.
E mãe que gera na vida os que ela a concedeu. E mãe que gera de novo o que
estava para morrer. Benedita não é só mãe. Ela é mãe no mais pleno sentido da
palavra.
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