Eu queria poder dizer isso olhando
em seus olhos. Esse seria meu desejo neste momento. Contudo não é permitido
devido a sua saúde nesse momento. Venho todos os dias neste hospital. Saio de
casa na esperança de aqui chegar e te encontrar nessa cama sentado e sorrindo.
Sorrindo do jeito que só você consegue e como sempre zoando da minha cara. E
quando chego ao seu quarto e te vejo assim deitado, de olhos fechados como que
dormindo é impossível conter a tristeza e quando não as lágrimas. Não consigo
te imaginar assim desse jeito! Preferiria estar contigo naquele carro. Preferia
impedir de algum modo que você fosse aquela viagem. Contudo amigo, eu seu que
todas as coisas são para fortalecer nossos laços. Fazia tanto tempo que não ia
a uma missa. Fazia tanto tempo que não rezava. Hoje não consigo passar um dia
se quer sem antes ir rezar por você. No princípio era por pura conveniência,
apenas o desejo de te ver curado. Hoje é no desejo de cumprir a vontade de Deus
em tua vida.
Ontem o padre disse uma coisa
muito bonita, que mostrou a imensa misericórdia do Deus, que você tanto falava:
“Até mesmo dos males Deus é capaz de fazer brotar sua glória.” Logo pensei em
você. Hoje penso que numa ação de amizade por mim, você foi meu amigo até mesmo
assim deitado nessa cama de hospital. Você mostrou a imensa salvação que havia
para mim reservada. Entendo agora porque você nunca me obrigou a ir à missa com
você ou te acompanhar naqueles encontros de oração que você sempre ia. Porque
haveria o tempo certo para tudo se realizar. Hoje recordo suas palavras de sempre:
“Lúcio. Serei sempre teu amigo. Existe um Deus que age de alguma forma entre
nós dois.” Hoje sei Marcelo que esse Deus agia de maneira silenciosa em tuas
palavras e gestos. Na tua simplicidade de ser jovem, viver alegre como um jovem
e mesmo assim rezar e falar de santidade. E pensar que muitas vezes eu ria de
você com essa história de ser santo. Não concebia em mim essa coisa de sermos pecadores
e buscarmos ser santos. Hoje entendo que “grandes santos foram grandes
pecadores.”.
Amigo, todos nós sentimos sua
falta tremendamente. A galera do futebol até desanimou. Não temos mais alegria
para jogar. Dias atrás, mexendo em meu celular encontrei uma de suas últimas
mensagens que dizia: “Lúcio, vamos jogar uma bolinha hoje? Estou precisando
cultivar as amizades. Hoje ás 17 horas no campo da Rua Cinco.” E repassei essa
mensagem para toda a galera. Que alegria meu amigo! Todo mundo reunido em torno
de um convite seu. Disse para galera que você não queria que nós acabássemos
com esse momento que era tão importante para você, por sua causa. Vamos para
segunda partida essa semana.
Os médicos não sabem bem porque
você ainda não acordou. Isso me deixa preocupado, entretanto eu entrego nas
mãos de Deus sua vida e sua história. Sei que hoje fazem cinco meses desde o
acidente. Sei que tudo está acontecendo muito rápido, todavia espero que você
acorde logo para que nós possamos caminhar juntos para fila da comunhão que era
seu sonho. Nós dois juntos na mesa da Eucaristia. Agora tenho que ir, mas amanhã eu volto meu
irmão. Fica em paz. Espero-te. Sempre te esperarei. Porque amigo que é amigo,
espera sempre o amigo que partiu. Gosto de pensar que você está apenas viajando
para um lugar bom e que qualquer dia você voltará.
Nenhum comentário:
Postar um comentário