
Chegando o dia tão aguardado
ela foi para casa em riso disfarçado. Disfarçado para ela que tentava esconder,como
se esconde uma lâmpada com saco plástico transparente. Ele de mesmo modo
tentava ocultar sua alegria, mas ela era tão real e forte que aqueles que
entravam em contato com ele sentiam em seu pulsar as forças do sentimento que
tinha por aquela moça de infância. Não era amor demais, nem de menos. Era
simples e sem pompa, contudo ele dizia para si mesmo: “Não assustar ela!” e
assim ele ia repetindo em seu coração, quando não em voz alta, no caminho para
casa. Ela preferia algo discreto para vestir, não queria parecer que fosse um
encontro. Ele do mesmo modo fazia uma combinação normal de roupa, daquelas que
ele sempre fazia sem pensar, mas era inevitável não pensar no melhor para ela.
E o tempo passava e em seu coração já não havia minutos de separação. Não havia
tempo que contivesse as eternidades de tempo que pareciam cada segundo.
Logo no primeiro toque da
campainha ela pensou o que ia dizer. Pensou como ele estaria vestido, e se não
havia exagerado nos detalhes da maquiagem. Não queria parecer uma boba. Eram
tantos pensamentos em poucos segundos que logo ao segundo toque da campainha foi
inevitável o nervosismo e pensará se estava fazendo a coisa certa. Se aquilo
não era apenas uma forma de compensar seus romances passados que não deram
certo. Ele ao lado de fora pensava se ela não haveria esquecido. Pensou se
estava realmente certo daquilo, se aquilo não era apenas um modo de ser feliz.
Pensou consigo mesmo se não havia exagerado em dar dois toques na campainha.
Ao ouvir o trinco da porta
romper no giro ele logo se acertará de forma reta. Ela por sua vez atrás da
porta dizia consigo mesma que não era ele, devia ser apenas mais um vendedor. Quando
olhos se encontraram pareciam novamente conhecer um ao outro. Era como se fosse
a primeira vez que ambos se viam, coisa estranha para quem se conhecia há
vários anos. Era como seus olhos se cruzassem pela primeira vez, como se nunca
tivessem se visto. Ele ficará sem palavras para a beleza que agora fitava. Ela
por sua vez, encantará com aquele rapaz diante de si, que estava vestido de
terno e camisa azul. Ela amava azul. Ela saiu ao seu encontro. Não sabia se abraçava,
se apertava a mão, se beijava no rosto. Ele do mesmo modo não sabia que atitude
tomar, enfim partiu para um abraço. Aquele abraço que ele esperou a semana inteira,
aquele abraço que continha os aromas e as fibras que ela ansiosamente esperou e
quando sentiu aquele corpo de encontro ao seu sentia que podia ser mais forte.
Sentia que não havia mais ela, não havia mais ele. Havia apenas um só e eles
eram um só. E o mais estranho daquilo tudo era saber que eles sempre estiveram
juntos e próximos, contudo aquele momento era como se fosse o encontro dos
encontros.
No caminho para o
restaurante o silêncio era contemplativo. Ela fitava seu rosto com vontade de
tocá-lo. Ele dirigia com desejo de fitar seu rosto e vez em quando o fazia.
Durante o jantar as conversas de sempre giravam em torno dos dias que
antecederam este momento. Ela queria fazer com que aquele momento fosse um
encontro entre amigos e ele do mesmo modo, contudo já era impossível fazer
aquilo parecer um encontro casual de amigos. Já existia o clima de encontro. No
olhar, nos gestos, na fala e até no restaurante. Nunca que um lugar daqueles
com luz de velas e música ambiente seria lugar de amigos se encontrarem. Onde
estava o cachorro quente? Aquela música esculachada da lanchonete? Onde estava
aquela conversa desenfreada dos presentes. O lugar era silencioso e calmo,
parecia que as pessoas tinham medo de conversar e atrapalhar os outros. Fato
visível: só havia casais naquele momento.
Para não perder o costume
dos encontros entre eles resolveram dar uma volta no parque. Eles sempre faziam
isso quando saiam juntos. Na verdade era mais o desejo de não dar tom de
encontro do que cumprir um ritual de amigos. Aquela altura do dia era
impossível acabar com aquele clima romântico que existia. Principalmente pelo
fato de nunca eles haverem chegado ao parque de mãos dadas. Ela nunca estaria
com o terno dele sobre o corpo devido ao frio. A verdade se revelava aos seus
olhos: Aquilo era um encontro.
Sentados naquele banco ele a
abraçou como se quisesse a ter para sempre. Ele a detinha em seus braços no
desejo impetuoso de ser como um escudo para ela, como uma fortaleza protegendo
um tesouro de grande valor. Ela ali protegida sentia que aquele era o momento
mais importante de toda sua vida. Aquele instante era o instante de completar
seu eu. O amor que ela sempre esperou, esteve sempre diante de seus olhos. Ali
bem diante de seus olhos. Foi inevitável a pergunta:
- Você me ama de verdade?
Ele sem o pudor, respondeu:
- Você irá descobrir pelas
batidas do meu coração.
E ela sentia. Sentia que já
havia certa confusão entre as batidas do seu coração, com as batidas do dele.
Daquele dia em diante fizeram uma promessa diante do Senhor: “Que nosso amor
seja Nele uma chama em que Ele seja o fogo que une nossos corações.” E aquilo
foi tão verdadeiro que o Senhor nunca extinguiu aquele fogo de graça que os une
até hoje. Um amor de eternidade.
Para meu casal amigo que de
um tesouro de amizade, cultivou um tesouro de corações. E estão juntos por
graça e vontade.
Um comentário:
Que obra mais preciosa Raifran!! Um verdadeiro tesouro de história...
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