Inicío

20 de dezembro de 2011

O encontro


Antes de marcarem o encontro no tempo e no calendário dos seus dias, ele já havia sido escrito nas fibras dos seus corações. Era tão real e visível o amor que havia entre os dois, que até o pior dos homens em percepção saberia que ali havia mais do que uma simples amizade. A indiscrição indiscreta de ambos fazia o clima de romance parecer ainda mais inevitável. Eram dias de contagem. Ela mesma prometera para si que não faria expectativas desanimadoras. Ele de certo contava os dias sem o pudor de dizer que era o dia mais feliz da sua vida. Ela se perguntava a todo instante como acontecerá aquilo? Como pode aceitar sair com seu melhor amigo? O que estava acontecendo de verdade entre os dois, que fazia o clima sempre mudar de uma amizade de infância para um amor de eternidade? Uma coisa ela sabia: era impossível esconder sua alegria. Os amigos de trabalho já notavam a aparente mudança em seu humor. Os sorrisos soltos e sem momento nos corredores. Os abraços fortes como se abraçasse outra pessoa e de certo ela imaginava está abraçando ele. Ele nem mais dormia, pois preferia continuar sonhando acordado pensando nela e naquele dia tão esperado.
Chegando o dia tão aguardado ela foi para casa em riso disfarçado. Disfarçado para ela que tentava esconder,como se esconde uma lâmpada com saco plástico transparente. Ele de mesmo modo tentava ocultar sua alegria, mas ela era tão real e forte que aqueles que entravam em contato com ele sentiam em seu pulsar as forças do sentimento que tinha por aquela moça de infância. Não era amor demais, nem de menos. Era simples e sem pompa, contudo ele dizia para si mesmo: “Não assustar ela!” e assim ele ia repetindo em seu coração, quando não em voz alta, no caminho para casa. Ela preferia algo discreto para vestir, não queria parecer que fosse um encontro. Ele do mesmo modo fazia uma combinação normal de roupa, daquelas que ele sempre fazia sem pensar, mas era inevitável não pensar no melhor para ela. E o tempo passava e em seu coração já não havia minutos de separação. Não havia tempo que contivesse as eternidades de tempo que pareciam cada segundo.
Logo no primeiro toque da campainha ela pensou o que ia dizer. Pensou como ele estaria vestido, e se não havia exagerado nos detalhes da maquiagem. Não queria parecer uma boba. Eram tantos pensamentos em poucos segundos que logo ao segundo toque da campainha foi inevitável o nervosismo e pensará se estava fazendo a coisa certa. Se aquilo não era apenas uma forma de compensar seus romances passados que não deram certo. Ele ao lado de fora pensava se ela não haveria esquecido. Pensou se estava realmente certo daquilo, se aquilo não era apenas um modo de ser feliz. Pensou consigo mesmo se não havia exagerado em dar dois toques na campainha.
Ao ouvir o trinco da porta romper no giro ele logo se acertará de forma reta. Ela por sua vez atrás da porta dizia consigo mesma que não era ele, devia ser apenas mais um vendedor. Quando olhos se encontraram pareciam novamente conhecer um ao outro. Era como se fosse a primeira vez que ambos se viam, coisa estranha para quem se conhecia há vários anos. Era como seus olhos se cruzassem pela primeira vez, como se nunca tivessem se visto. Ele ficará sem palavras para a beleza que agora fitava. Ela por sua vez, encantará com aquele rapaz diante de si, que estava vestido de terno e camisa azul. Ela amava azul. Ela saiu ao seu encontro. Não sabia se abraçava, se apertava a mão, se beijava no rosto. Ele do mesmo modo não sabia que atitude tomar, enfim partiu para um abraço. Aquele abraço que ele esperou a semana inteira, aquele abraço que continha os aromas e as fibras que ela ansiosamente esperou e quando sentiu aquele corpo de encontro ao seu sentia que podia ser mais forte. Sentia que não havia mais ela, não havia mais ele. Havia apenas um só e eles eram um só. E o mais estranho daquilo tudo era saber que eles sempre estiveram juntos e próximos, contudo aquele momento era como se fosse o encontro dos encontros.
No caminho para o restaurante o silêncio era contemplativo. Ela fitava seu rosto com vontade de tocá-lo. Ele dirigia com desejo de fitar seu rosto e vez em quando o fazia. Durante o jantar as conversas de sempre giravam em torno dos dias que antecederam este momento. Ela queria fazer com que aquele momento fosse um encontro entre amigos e ele do mesmo modo, contudo já era impossível fazer aquilo parecer um encontro casual de amigos. Já existia o clima de encontro. No olhar, nos gestos, na fala e até no restaurante. Nunca que um lugar daqueles com luz de velas e música ambiente seria lugar de amigos se encontrarem. Onde estava o cachorro quente? Aquela música esculachada da lanchonete? Onde estava aquela conversa desenfreada dos presentes. O lugar era silencioso e calmo, parecia que as pessoas tinham medo de conversar e atrapalhar os outros. Fato visível: só havia casais naquele momento.
Para não perder o costume dos encontros entre eles resolveram dar uma volta no parque. Eles sempre faziam isso quando saiam juntos. Na verdade era mais o desejo de não dar tom de encontro do que cumprir um ritual de amigos. Aquela altura do dia era impossível acabar com aquele clima romântico que existia. Principalmente pelo fato de nunca eles haverem chegado ao parque de mãos dadas. Ela nunca estaria com o terno dele sobre o corpo devido ao frio. A verdade se revelava aos seus olhos: Aquilo era um encontro.
Sentados naquele banco ele a abraçou como se quisesse a ter para sempre. Ele a detinha em seus braços no desejo impetuoso de ser como um escudo para ela, como uma fortaleza protegendo um tesouro de grande valor. Ela ali protegida sentia que aquele era o momento mais importante de toda sua vida. Aquele instante era o instante de completar seu eu. O amor que ela sempre esperou, esteve sempre diante de seus olhos. Ali bem diante de seus olhos. Foi inevitável a pergunta:
- Você me ama de verdade?
Ele sem o pudor, respondeu:
- Você irá descobrir pelas batidas do meu coração.
E ela sentia. Sentia que já havia certa confusão entre as batidas do seu coração, com as batidas do dele. Daquele dia em diante fizeram uma promessa diante do Senhor: “Que nosso amor seja Nele uma chama em que Ele seja o fogo que une nossos corações.” E aquilo foi tão verdadeiro que o Senhor nunca extinguiu aquele fogo de graça que os une até hoje. Um amor de eternidade.
Para meu casal amigo que de um tesouro de amizade, cultivou um tesouro de corações. E estão juntos por graça e vontade. 

Um comentário:

Driii Dourado disse...

Que obra mais preciosa Raifran!! Um verdadeiro tesouro de história...