A
veste negra que cobre o corpo é a mortalha escura do homem morto. Vestiu-se de
negra capa para cobrir-se de santidade. Nas fibras brunas daquele manto decidiu
guardar sua vida das vaidades fúteis que revestem o mundo. E ainda que transmitam
escura cor é como luz sua presença. Decidiu vestir-se assim parar gritar no
silêncio de quem olha os sinais firmes de sua decisão. Para unir seu coração ao
sinal externo da sua escolha. Não mais vestir-se nos gostos deste mundo, porque
já aqui deseja transmitir o que será no céu seu ser: guardado para Cristo.
Vestiu-se de morte este homem. De
penumbra cor guardou seu corpo, não para honra de seu nome, mas para glória
daquele pelo qual quis estar revestido. Cobriu-se de escura manta não só aos
olhos humanos, contudo também seu coração foi revestido de outra veste
superior, que é como complemento desta. Vestiu seu coração de caridade, de fé e
esperança, que são o sentido daquela primeira. Vestiu-se de morte este homem
para dar vida, para levar vida. Sua veste negra é o sinal de que ele irá e não
se cansará. Decidiu unir estritamente os sentidos dessa, com os sinais da vida.
Só assim toma sentido o vestir-se desse sinal de pertença.
Vestiu-se de morte este homem para
dizer aos homens que é um homem já morto para suas riquezas, porque guardou no
céu todo seu tesouro e só neste Bem poderá ser rico. Que paradoxal sinal: nada
ter para Tudo possuir. E o homem que decide vestir-se de negra veste deve
deixar as efêmeras coisas dessa terra para juntar tesouros no céu. Deve
descobrir que aquela veste é o sinal do bem maior que deve possuir, de quem lhe
dará tudo quanto precisa, porque Ele mesmo o basta para que possa ter tudo,
porque Ele é Tudo e o todo é Dele. Vestir-se de morte é nada guardar para si,
porque o que tem não é seu, mas foi recebido Daquele que tudo tem.
Vestiu-se de morte este homem parar
apresentar Aquele que antes dele também se revestiu de morte para dar vida. Não
é ele sinal por si mesmo, entretanto é tela daquele que é a verdadeira obra.
Não é ele o principal, não é por si mesmo e não será jamais, porque deixa que o
sentido também daquela veste seja o protagonista de sua história. Não veste por
fama, por poder, por vaidade. Vestiu-se de morte para que transmita o seu
Amado. O que desposou sua alma e vestiu ele com veste nupcial mais digna, veste
que diga: “És Meu!”.
Aos olhos humanos é um louco. Dizem
seus opositores: “Louco”, “Coisa velha”, “Vive no passado”, “Tradicionalista
demente!”. O que faz o homem já morto? Acolhe tais ditos como flores que são
jogadas para seu Esposo. O sinal de que não é diferente do seu Amado, que antes
dele também foi insultado por escolher viver além deste mundo. E o homem morto
não mais se importuna com isso, porque não é sua morte escolha dos homens, mas
daquele que antes dele, também livremente deu sua vida para que outros pudessem
alcançar o Reino.