Inicío

11 de abril de 2013

“O Zelo por tua casa me consome” Sl 69,10 : Porque se vestir com decoro na Igreja?


Por Seminarista Raifran Sousa
A Igreja é a casa de Deus. Essa afirmação é continuamente afirmada por cada um de nós e constantemente repetida em nossas comunidades. Aparece neste contexto o respeito devido que devemos ter para com este santo lugar, bem como a maneira de nos vestirmos e portarmos. Em principio essa afirmação toma um modelo espiritual que está corroborada pela própria Palavra de Deus. No livro dos salmos encontramos a palavra do salmista que diz:"Zelus Domus Tuae - O zelo por tua casa me consome” Sl 69,10. Ele que mesmo diante de tamanhas adversidades,súplica socorro ao Senhor e persevera no seu amor zeloso para com o Templo. Mais tarde este mesmo verso bíblico será usado quando Jesus, tomado de zelo, expulsa os cambistas que tomavam o templo de Jerusalém (Cf Jo 2,17).

O templo, que é a Igreja, é morada de Deus. Lemos no livro do Gênesis o temor que sentiu Jacó diante da visão que teve do Senhor, ao ponto de exclamar com verdade diante de tamanha visão :“Sem dúvida o Senhor está neste lugar, mas eu não sabia! Teve medo e disse: ‘Temível é este lugar! Não é outro, senão a casa de Deus; esta é a porta dos céus”. Gen 28,16-17. Se Jacó diante de um sonho chegou a tal conclusão, então qual conclusão nós não deveríamos ter diante do lugar em que habita o Próprio Deus, feito carne para nós? Qual é a forma que devemos estar vestidos e nos portamos, nessa morada celeste que é “a porta do céu”? Ou lemos ainda no livro do Êxodo como Moisés foi chamado a retirar suas sandálias diante da Sacralidade do lugar que adentrava, no episódio da Sarça ardente(Cf Ex 3, 5) . Pode ser menos santo o lugar onde a Eucaristia é celebrada? Onde o pão dos anjos é feito pão dos homens? 
A santidade do Templo construído pelas mãos humanas nos convida a reconhecermos a santidade também do templo que é nosso corpo. O mesmo zelo guardado para com a Casa de Deus deverá ser empregado para com a morada do nosso corpo. Digo isso na atual conjuntura de muitos de nós, que vamos a Casa de Deus como se estivéssemos indo a praia ou qualquer outro lugar que permita nos vestirmos de maneira inapropriada para estarmos na Igreja. O fato é que, para muitos é normal ir vestido de qualquer maneira à celebração dos Sacramentos e a oração na Casa de Deus. Homens que usam bonés, bermudas e blusas regatas. Mulheres que usam saias curtíssimas e blusas com longos decotes e costas nuas.
Para defender seus pontos de vistas usam dos mais diversos argumentos. Argumentos estes que são profundamente pessoais e pesadamente relativistas:“Cristo olha o coração”; “Cristo acolhe todos como são e não vai ligar como estamos vestidos!”; “O Senhor não se importa com tua roupa, o importante é o interior”. Essa é a triste mentalidade do nosso tempo. O relativismo que assola nossas fileiras católicas. Tudo pode e tudo é permitido segundo minha cabeça. Mas S. Bernardo estava certo:"Te fazes mestre de ti! Não precisas de Igreja ou de quem te ensine o bom caminho. E estarás nas fileiras do mau caminho rapidamente". Preferem usar de argumentos tão intimistas e egocêntricos e esquecem todo o ensinamento do Magistério e da moral que a Igreja procura transmitir. E assim colocam em descrédito tudo aquilo que os documentos da Igreja procuram expressar na busca da modéstia e do decoro na participação da liturgia. Eles Esquecem, porém que o exterior é a expressiva representação do interior. O adágio antigo que diz:“A roupa não faz o monge” é usado sem escrúpulos para defender esse errôneo ponto de vista, pois pode não fazer o monge, contudo sempre dirá quem ele é. Reportam sua maneira de vestir a uma tendenciosa e falsa visão de "liberdade" que assola muitas mentes nos dias de hoje, sendo justamente essa mesma visão de "liberdade" origem de tantos outros abusos na liturgia e na vida moral: “Não é estranho que os abusos tenham sua origem em um falso conceito de liberdade. Posto que Deus nos tem concedido, em Cristo, não uma falsa liberdade para fazer o que queremos, mas sim a liberdade para que possamos realizar o que é digno e justo” (Instrução “Redemptionis Sacramentum”, n. 7)Ou ainda como convida a Palavra de Deus que diz:"Comportai-vos como homens livres, e não a maneira dos que tomam a liberdade como véu para encobrir a malicia, mas vivendo como servos de Deus" (I Pe 2,16).
De fato a vestimenta convida a preservação do corpo como templo do Espírito e expressa a santidade que está neste mesmo. Circula pela internet uma frase do Rev. Pe. Paulo Ricardo que conclui bem essa afirmativa: "Tudo o que é sagrado a Igreja cobre com um véu". Porém, essa afirmativa parece até estranha em uma sociedade que perdeu o sentido do Sagrado e da sacralidade, que é expressa em outras temáticas da vida cristã. Assim também devemos cobrir nosso corpo de maneira modesta. O Catecismo da Igreja católica nos ensina em seu nº 1387: "A atitude corporal - gestos, roupa - há de traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que Cristo se torna nosso hóspede". Retiramos deste ensinamento que não podemos estar vestidos ou portados de qualquer maneira diante do Cristo que será nosso hóspede. Esse mesmo Cristo que também estava vestido de maneira santa. Lemos no evangelho que: “Tendo, pois, os soldados crucificado a Jesus, tomaram as suas vestes, e fizeram quatro partes, para cada soldado uma parte; e também a túnica. A túnica, porém, tecida toda de alto a baixo, não tinha costura.” Jo 19,23 que intui que também o Senhor se vestia de forma digna.
 O magistério por diversas vezes ensina que a maneira como estamos e como nos portamos deve ser digna e santa, segundo a santidade também do Mistério que celebramos e participamos. Ensina-nos o B. João Paulo II:"De modo particular torna-se necessário cultivar, tanto na celebração da Missa como no culto eucarístico fora dela, uma consciência viva da Presença Real de Cristo, tendo o cuidado de testemunhá-la com o tom da voz, os gestos, os movimentos, o comportamento no seu todo. (...) Numa palavra, é necessário que todo o modo de tratar a Eucaristia por parte dos ministros e dos fiéis seja caracterizado por um respeito extremo."(Mane Nobiscum Domine, 18).
Temos assim por certo que o mínimo que podemos fazer é irmos vestidos com decoro e dignamente, de acordo com o local que estamos. O templo feito de mãos humanas convida cada um de nós a também termos respeito pelo templo que é o nosso corpo. O lugar onde celebramos, como celebramos e de que maneira celebramos expressa a profunda devoção que devemos ter para com o próprio Cristo. São Josemaría Escrivá em uma de suas homilias, faz uma bela e profunda recordação de seus tempos de infância:"Lembro-me de como as pessoas se preparavam para comungar: havia esmero em arrumar bem a alma e o corpo. As melhores roupas, o cabelo bem penteado, o corpo fisicamente limpo, talvez até com um pouco de perfume. Eram delicadezas próprias de gente enamorada, de almas finas e retas, que sabiam pagar amor com amor." Afirma ainda: "Quando na terra se recebem pessoas investidas em autoridade, preparam-se luzes, música e vestes de gala. Para hospedarmos Cristo na nossa alma, de que maneira não devemos preparar-nos?"(S. Josemaría Escrivá em "Homilias sobre a Eucaristia").
Seminarista Raifran Sousa é seminarista da Diocese de Formosa - GO e estudante do 3º Ano de Filosofia no Seminário Maior Nossa senhora de Fátima em Brasília - DF